domingo, 15 de março de 2009

Auto retratos

auto retrato sem luz por você.



Nem todos os dias são de sol. Há também aqueles dias em que as águas rolam abundantes, vertiginosas torrentes céu abaixo, lavando toda a sujeira que fora deixada para trás. Às vezes, é claro, incidentalmente (ou acidentalmente - ácida ou amarga) não só lavando mas sim levando embora e fica, assim, o campo nu. Não deserto, apenas nu, virgem, novamente etéreo, novamente pronto para se preparar. Arar, roçar e recomeçar.

Dias de chuva são dias que pintamos nosso retrato sem luz, sem vontade intensa de intensidade. Os dias de chuva são importantes, nos salvam da pieguice, da inocência e da arrogância desenfreada. Dias de chuva nos permitem parar e refletir: quem somos, quem queremos ser, de onde viemos, para onde vamos. Viva os dias de chuva - eles preparam o espírito para os dias de sol.


auto retrato na luz por você.

Na luz vemos (quase) tudo. Às vezes, as cores pululantes se esbravejam tanto que nos esquecemos de nós mesmo. Nos integramos com o todo de tal forma que tudo fica comum numa normalidade sem igual.

Já ouvi perguntas sobre razões contra somente termos dias de sol, para a luz nos alimentar alegremente a alma. Pois digo que nem só de luz se alimenta a alma, nem as flores. Se só luz tivéssemos, o solo seria árido, arrogantemente árido. Nada brotaria, e a luz das flores (digo cores...) se esvaziaria desbotando a cada dia.

A luz constante cega. E o pior cego é o que não quer ver. Seja uma cegueira negra ou aquela branca. Os dias de chuva refrescam a memória - e nos lembram como somos demasiadamente humanos.


***

As coisas se movem
Não sei como, não sei porquê
Não sei se sei, só sei que movem
Ou será que sou eu quem movo
(as movo ou me movo)

Por um instante o mundo parece parado
Por um instante quando ouço o coração estalado
Vazio ou cheio - preenchemos com o olhar
Que olhar?
O olhar sobre o mundo
Seja imundo seja profundo
Infinitas são as possibilidades

O tempo corre
As coisas vêm e vão
Os rostos ilusões que insistimos em querer apreender
O que fica é o intento de olhar
Porque mesmo se fechamos os olhos
Ainda olhamos para dentro
E o que vemos é o mundo

Seja como for
O mundo vive, vivo, conosco
O mundo somos nós



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