quarta-feira, 30 de junho de 2010

de métrica e rima e da boçal racionalidade e seus fundamentalismos ou minha fé

correntes

queria minha rendição poética
alforria da alma e de minhas inéditas peculiaridades
livrar minhas personalidades reprimidas
e ver meus dedos dançando sonhos de anjos sem asas
respirar fundo além deste ar de meus pulmões

mas tudo que me resta é esta boçal racionalidade
e minha obsessão estrutural fundamentalista
e mesmo que eu me pergunte volta e meia tais questões no chuveiro
minhas ideias não se limpam da sujeira cotidiana que restringe minha produção
e o que me resta é a reprodução abjeta da realidade formal
sacrificando minhas emoções e criatividade pela segurança de um pão diário
sendo derrotado pelo costumeiro e vulgar em detrimento da beleza do inesperado

me pergunto se caso eu enlouquecesse se seria mais feliz
ou se fosse mais feliz se seria violentado pela loucura da completude existencial

e assim me fio nos meus poucos trocados e trocadilhos
porque eu ainda acredito nos atos de fé de Pessoa e Neruda
pois creio piamente que minha alma não é pequena
e defendo que só o poeta conhece a razão de seus versos
já que minhas palavras respeitam somente a métrica e a rima de meu coração


aqui somos um

terça-feira, 29 de junho de 2010

pas un mort-vivant

janela da casa da "cuca"

l'humanité ne sait pas aucune idée que je voudrais faire
je ne pense plus sur les mémoirs de mon coeur
je ne pense rien sur les mots que passent dans ma tête
je me lève et regarde les crayons noirs et tous sont pas real
qu'est-ce qu'on fait? qui je suis?

mais les histoires ne fissent toujours mal
je ne suis pas un mort-vivant

segunda-feira, 28 de junho de 2010

je me réveille




e naquela noite vi minha vida em reverso
chorei minha juventude nas ondas do tempo que faz correr
aquilo que se esvai por entre os dedos de todos nós
não sabia que as mudanças viriam de parte em parte
e partiu de mim, em mim, o antes e o depois
todos aqueles anos que marcaram minha face
contabilizaram meus cabelos brancos e conjecturas
ideias confusas acerca das reentrâncias da existência
o que fora não mais é, só volta na memória da sabedoria
num futuro de toda alegria me dizendo "sorria"
dormi menino e acordei homem
fugindo do mal e do mundo perverso
construo meus projetos baseados no que posso crer
avançando, valente, desatando controvérsias e nós
não podia reter o tradicionalismo inóspito e seu baluarte
e partiu de mim, em mim, o antes e o depois
todas aquelas vidas que fitaram minha face
mobilizaram meus cabelos brancos e abreviaturas
minúcias de memórias nas reentrâncias da existência
o que fora não mais é, pó solta da memória que me doía
um fututo surge com sorrisos me dizendo "alegria"


sábado, 19 de junho de 2010

Da sintaxe à semântica: minha despedida mal entendida à José Saramago

Ontem escrevi a seguinte mensagem no meu Orkut, abre aspas tchau, Saramago fecha aspas com exclamação, e logo começou uma discrepância entre meus amigos sobre o que teria eu dito com aquelas palavras lançadas assim ao vento cibernético em meus às nuvens do Google e da web, e fiquei marcado como opositor ou crítico do escritor lusófono ao não prever o impacto da sintaxe em relação à semântica de minhas palavras não entonadas, grafadas somente no meu restrito entender.

Mesmo com três de suas obras lidas por estes meus olhos que a terra não há de comer - preferiria ser cremado a concretizar os sonhos dos vermes e das raízes das gramas ao misturar o pouco de humano que resta ao corpo à mãe Terra e transmutar aquilo que fora gente em pó novamente e retomar o ciclo que surgiu no início dos tempos e que processará toda a Natureza até o seu fim sem ponto, sem vírgula e sem testemunhas para versar a linda biografia universal do existir - fui incompreendido por não antever a possibilidade de minha direta e objetiva declaração.

Não sei se por rudeza e falta de lirismo de minha parte, já que me considero algo como um estruturalista concretista quadrado, isso num sentido mais geométrico que direitista, visto minha afinidade com os entendimentos políticos do falecido autor e de outros tantos autores de minha crônica preferência, ou por egoísmo, ou simples chiste de uma composição formulada às pressas e desprovida de qualquer conotação afetiva maior.

Quando recebi a réplica contrariada de minha sentença, a primeira reflexão que se produziu se apegou na lógica mínima da incoerência de uma frase com referências a outros mundos, paraísos e qualquer além que estivesse além do Ribatejo, de onde surgiu tal grandioso autor. Falar de um adeus ou de um até breve seria nefasto e incongruente para falar de menos ou ao menos me revelaria verdadeiro provocador com ato dirigido neste caminho de pensamento.

Um ponto somente me entristece ao ver a imagem de Saramago tratado como figura pop: piadas no Twitter, comentários de Sandy e milhares de reportagens.

De que valem comentários apócrifos se o que vale no fim é a vida vivida e não a morte que nos toma sem rodeios nem prosa nem verso nossa breve e tênue humanidade.

O que desespera minha alma é me lembrar de Saramago todas as vezes que corrijo provas e me deparo com tanta (falta de) homenagens àquele que bem soube subverter o linguajar grafado em prol de uma textura mais próxima da promíscua oralidade.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

eu sou (esquisito)

at the table


nadar contra a correnteza é duro, mas é preciso para que a vida seja doce
olhos de criança sapeca, alma de um velho sábio
tudo isso e mais um pouco, e mais nada nem nada mais
se sou isso ou aquilo, ninguém sabe
se sou esquisito, sou além
sou eu e pronto
nunca pronto: sempre em construção