sábado, 31 de janeiro de 2009

Instantes


Viver novamente a minha vida
Na verdade, para ser perfeito, relaxar mais
Viajar mais, contemplar mais entardeceres, subir mais montanhas
Nadar

Viver sensata e produtivamente
Ir a lugares onde nunca fui
Momentos de alegria

Ter momentos bons momentos
Disso é feita a vida
Momentos

Viajar mais leve
Voltar a viver
Andar descalço
Brincar


Se tivesse outra vez minha vida pela frente...


sábado, 17 de janeiro de 2009

55 horas entre a Ipiranga e a São João


Sampa - Caetano Veloso

Alguma coisa acontece em meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João
É que quando eu cheguei por aqui/Eu nada entendi
Da dura poesia concreta de tuas esquinas
Da deselegância discreta de tuas meninas
Ainda não havia para mim Rita Lee
A tua mais completa tradução
Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João

Quando eu te encarei frente a frente/Não vi o meu rosto
Chamei de mau gosto o que vi de mau gosto, mau gosto
É que narciso acha feio o que não é espelho
E a mente apavora que ainda não é mesmo velho
Nada do que não era antes/Quando não somos mutantes
E foste um difícil começo/Afasto o que não conheço
E que vem de outro sonho feliz de cidade
Aprende depressa a chamar-te de realidade
Por que és o avesso do avesso/Do avesso do avesso

Do povo oprimido nas filas/Nas vilas, favelas
Da força da grana que ergue/E destrói coisas belas
Da feia fumaça que sobe apagando as estrelas
Eu vejo surgir teus poetas de campos e espaços
Tuas oficinas de florestas/Teus deuses da chuva
Pan Américas de Áfricas utópicas túmulo do samba
Mais possível novo quilombo de Zumbi
e os novos baianos passeiam na tua garoa
e novos baianos te podem curtir numa boa


***

Pouco é preciso para nos levar a repensar nossos projetos de vida, mesmo se estiver convictos. Cruzar uma esquina, olhar as placas que direcionam. Para onde vão? Sinais nos apontam direções diversas. Serão elas as mesmas para eu e você?

Pessoas discordam. Muitos iremos discordar em algo algum dia. Compreender, eis a questão. Compreender quando não há concordância.

***

São Paulo... aguça minha fome de viver
Ambiente novo, coisas a se aprender
Apreender o que nos faz crescer, sede de mais e mais

O mundo tem muito a nos dar
Basta querer receber
Abrir o coração e viver

Mais e mais, mais e mais um pouco
Um pedaço não é o todo
O todo... inacessível

A vida experimento incrível
Revela de tudo um pouco
E de pouco em pouco, o todo


quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Miopia, probabilística e a grama do vizinho



Dizem que muitos de nós sofremos de miopia nessa vida. Somos levados a olhar além, convocados a ver o que está lá adiante nos esperando. Tive um professor que em uma de suas aulas frisou, com a dada veemência autorizada aos professores, que o diferencial para o progresso da humanidade foi o desenvolvimento da probabilística.

Sim. "O cálculo das probabilidades mudou a humanidade", disse meu professor. Tal tecnologia matemática nos deu a possibilidade de medir algo que não é mas pode vir a ser. Isso fez com que as pessoas medissem o risco em se tomar certas decisões e escolher dentre as variáveis com melhor probabilidade de ter retorno favorável ao objetivo em dada ação.

Aprendi a usar calculadora financeira, a trazer para a data corrente os juros aplicados para visualizar o quanto implicam sobre o valor presente num dado período, etc, etc, etc. Tudo isso com a certeza de que nada iria mudar e as coisas funcionariam conforme estipulado nas regras do jogo naquelas belíssimas funções recheadas de variáveis e operações.

Pena a vida ter mais níveis de complexidade do que essas funções. As variáveis são muitas; as operações, um certo tanto; a vida apenas uma.

Somos uma aposta constante. Nada me garante que A, B ou C irá acontecer no decorrer de meu dia. Ainda assim, num ato de fé, sigo persistente no aqui-e-agora na crença de que o daqui-a-pouco será mais ou menos como o previsto.

Previsões são cálculos. Os cálculos são aproximações.

O real está lá. E eu estou aqui.

***

A cultura capitalista pós-industrial doutrina a população com seus manuais de auto ajuda aos quais tudo é possível, e que se você quiser bastante, você terá. Entretanto, nem tudo nos convém; e, essa pausa temporal entre o querer e o ter ou o não-ter é a medida certa para a razão criticar e a emoção sentir se o querer nos é um bom querer.

Na ganância do querer o verde da grama ao lado, nos distraímos olhando no retrovisor lateral e batemos no poste. Olhemos o caminho que caminhamos. Olhemos o que está diante de nós. Sejamos gratos e nos surpreenderemos com o que está bem diante de nosso nariz.

É uma questão de foco.


segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Quando a luz (nos) toca


A vida é em si um escuro a ser descoberto
E quando desvelamos o que estava coberto de nada
De nós mesmos colocamos algo em algo decerto
E o que antes era deserto ganha vida
Vida linda corada, perfumada e audível
Vida que nasce do nada do nunca sofrível
Floresce em algo que vivo da vida vivida
Vivo com algo de mim em algo de outro ou de outrem

Vivo e vos digo que vivo o todo de mim
Pois as partes em parte são algo do todo
Claro que dizem dele, mas ele só ele o é
Uma vez que as partes se juntam em mim
E juntos somos algo além do pouco de cada um de nós

***

A luz da intenção do olhar do observador promove o encontro entre o objeto e o objetivo do observador. Quando nos deparamos com a realidade, nos deparamos com a realidade de algo, com a realidade de nossa intenção.

O que é a realidade senão pura intenção em (in)certo lugar num dado momento?

Construímos o mundo ao mesmo tempo em que somos construídos por ele, isso é certo. Num círculo que nem sempre é tão redondo e cujas arestas às vezes ferem como farpas surgidas das faíscas de nossos próprios olhos ferozes.


quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Gênesis (ou apenas um devaneio a título de prólogo)


No princípio Deus criou os céus e a terra.
Era a terra sem forma e vazia: trevas cobriam a face do abismo, e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas.
Disse Deus: "Haja luz", e houve luz. Deus viu que a luz era boa, e separou a luz das trevas. Deus chamou à luz dia, e às trevas chamou noite. Passaram-se a tarde e a manhã; esse foi o primeiro dia.
Gênesis 1, 1-5 (NVI)

***

Os começos são sempre um pulo rumo ao desconhecido.
Quando olhamos o mundo, o estranhamento que nos acomete repercute numa angústia que quase instantaneamente é curado pela linguagem.
O encontro com o mundo nos faz gente. O encontro imediatamente nos faz apreender o que está a nossa frente e o colocar de nossa intenção sobre o mundo - como a luz sobre a terra - muda o mundo.
Construímos o mundo onde vivemos pelo simples olhar.
Mudamos o mundo.
Mudemos o mundo.

***

O objetivo deste projeto é criar um espaço de convivência entre prosa, poesia, filosofia e fotografia. Um espaço criativo que sirva de berço à episteme - se é que tenhamos algum acesso real a ela.