Dizem que muitos de nós sofremos de miopia nessa vida. Somos levados a olhar além, convocados a ver o que está lá adiante nos esperando. Tive um professor que em uma de suas aulas frisou, com a dada veemência autorizada aos professores, que o diferencial para o progresso da humanidade foi o desenvolvimento da probabilística.
Sim. "O cálculo das probabilidades mudou a humanidade", disse meu professor. Tal tecnologia matemática nos deu a possibilidade de medir algo que não é mas pode vir a ser. Isso fez com que as pessoas medissem o risco em se tomar certas decisões e escolher dentre as variáveis com melhor probabilidade de ter retorno favorável ao objetivo em dada ação.
Aprendi a usar calculadora financeira, a trazer para a data corrente os juros aplicados para visualizar o quanto implicam sobre o valor presente num dado período, etc, etc, etc. Tudo isso com a certeza de que nada iria mudar e as coisas funcionariam conforme estipulado nas regras do jogo naquelas belíssimas funções recheadas de variáveis e operações.
Pena a vida ter mais níveis de complexidade do que essas funções. As variáveis são muitas; as operações, um certo tanto; a vida apenas uma.
Somos uma aposta constante. Nada me garante que A, B ou C irá acontecer no decorrer de meu dia. Ainda assim, num ato de fé, sigo persistente no aqui-e-agora na crença de que o daqui-a-pouco será mais ou menos como o previsto.
Previsões são cálculos. Os cálculos são aproximações.
O real está lá. E eu estou aqui.
***
A cultura capitalista pós-industrial doutrina a população com seus manuais de auto ajuda aos quais tudo é possível, e que se você quiser bastante, você terá. Entretanto, nem tudo nos convém; e, essa pausa temporal entre o querer e o ter ou o não-ter é a medida certa para a razão criticar e a emoção sentir se o querer nos é um bom querer.
Na ganância do querer o verde da grama ao lado, nos distraímos olhando no retrovisor lateral e batemos no poste. Olhemos o caminho que caminhamos. Olhemos o que está diante de nós. Sejamos gratos e nos surpreenderemos com o que está bem diante de nosso nariz.
É uma questão de foco.
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