sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

maria, maria

maria era uma menina levada. levada assim daquelas que fingiam ser uma coisa mas era outra. era tudo menos santa, isso sim. maria usava saia como todas as meninas. saia de uniforme, mas seu uniforme não era tão uniforme assim: era mais curto e menos uniforme que o uniforme das outras meninas. maria sabia disso. queria mesmo era mostrar as pernas para os meninos - mesmo fingindo que não era com ela. maria era meio assim, meio assado, se fazia de sonsa e arrasava quarteirão. depois anotava tudo no seu diário, anotava suas estripulias à la Capitu. muitos queriam ser bentinhos para se afogar em sua ressaca; poucos tiveram essa chance.

maria registrava tudo que aprontava; tinha sonho de ser escritora. escrevia, escrevia, escrevia. não era a melhor nem a pior escritora. escrevia com a malícia que já despontava na infância. palavras, palavras, palavras. escrevia, escrevia, escrevia. a saia diminuia, diminuia. às vezes subia, às vezes descia: tudo conforme a moda. ela sempre foi uma menina da moda. nunca da minha moda - eu era completamente fora da estação.

maria menina já meio mulher. escrevia, escrevia, escrevia. diminuia, diminuia. subia e descia. pernas grossas. pequena estatura. ego enorme. subia e descia, mas não era em mim.

maria escreve, escreve, escreve. se sobe ou desce não sei, nem se for, nem com quem. voa por aí pendurada no seu ego. e sua lembrança que em minha memória em mim doia, hoje é só um borrão.

maria, maria, levada pelo tempo. rodada pela saia, saía, saía, saiu. maria foi uma coisa, hoje é outra. escreve, escreve, escreve; e é só.


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