queria minha rendição poética
alforria da alma e de minhas inéditas peculiaridades
livrar minhas personalidades reprimidas
e ver meus dedos dançando sonhos de anjos sem asas
respirar fundo além deste ar de meus pulmões
mas tudo que me resta é esta boçal racionalidade
e minha obsessão estrutural fundamentalista
e mesmo que eu me pergunte volta e meia tais questões no chuveiro
minhas ideias não se limpam da sujeira cotidiana que restringe minha produção
e o que me resta é a reprodução abjeta da realidade formal
sacrificando minhas emoções e criatividade pela segurança de um pão diário
sendo derrotado pelo costumeiro e vulgar em detrimento da beleza do inesperado
me pergunto se caso eu enlouquecesse se seria mais feliz
ou se fosse mais feliz se seria violentado pela loucura da completude existencial
e assim me fio nos meus poucos trocados e trocadilhos
porque eu ainda acredito nos atos de fé de Pessoa e Neruda
pois creio piamente que minha alma não é pequena
e defendo que só o poeta conhece a razão de seus versos
já que minhas palavras respeitam somente a métrica e a rima de meu coração
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