sábado, 26 de setembro de 2009

Espectadores da vida




Poucos minutos atrás, eu estava postando respostas para exercícios de revisão para meus alunos quando minha mãe entrou em meu quarto. Sorridente, perguntou o que fazia e olhando meio de lado, quase intrusivamente, xeretou meus posts com as respostas dos exercícios. Ela sentou na minha cama ao meu lado.

Logo veio o estalo de fatos rotineiros que a incomodam. (Pausa: volta e meia minha mãe compartilha comigo seus desagrados e malidicências.) Minha mãe me disse que todos os dias recebe mensagens e mais mensagens de uma colega que se aposentou, porém ainda trabalha, e que passa parte da noite no computador conectada ao mundo. Bem, talvez um mundo meio vazio pelo que entendi ao ouvir suas palavras.

Sua queixa era sobretudo a respeito daquelas meia dúzia e tal de mensagens que chegavam rotineiramente em sua caixa de entrada todos os dias. Aí, como que confessando um pequeno pecado, disse que apagava as mensagens sem ler. Eram mensagens com piadas, correntes, lendas urbanas e afins. Entre as palavras de minha mãe me vieram na cabeça lembranças de e-mail que insistem em pular o muro e invadir meu jardim de tranquilidade.

Conheço algumas pessoas que mantém esse hábito comum às pessoas hoje em dia. Pessoas que coletam informações vazias e repassam adiante, inundando o mundo de inutilidades.

Me lembro também da época que tinha meu primeiro PC em casa, um Aptiva da IBM. Compramos aquilo através de leasing, quem diria... Enfim, mesmo naqueles tempos de início de Hotmail, Windows 3.11 e BBSs se transformando em provedores de internet discada em modems de 14k, cultivei por certo tempo o hábito de escrever cartas para amigos.

Hoje, não reservo tempo para escrever assim. Minhas aulas são feitas em PPS ou PPT, porque se quiser escrever no quadro (que agora é branco!), meus alunos não entenderiam bulhufas da matéria. (Vixe! Será que com slides ajuda?)

Bem, reflexões a parte, retomando o assunto, eu me dedicava a escrever, tirava um tempo para ir aos Correios e tal. E para fazer tudo isso, eu realmente tinha que ter algo a dizer.

Meus alunos têm dificuldade de responder as questões das provas porque perderam o hábito de ler e escrever desde a escola. Os e-mails continuam chegando com um monte de baboseiras sem pé nem cabeça.

Foi-se o dia no qual as pessoas tinham algo a dizer. Agora, são apenas espectadores da vida.


Um comentário:

  1. Repassar, repassar, repassar...

    Confesso que, como sua mãe, tb acabo apagando a maioria dos repasses.

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